sábado, 21 de março de 2015

Anos Dourados

destaque

Todo o romantismo dos anos 50 foi mostrado na minissérie "Anos Dourados", um enorme sucesso da Rede Globo, que foi exibida nos anos 80, mais precisamente em 1986. O romance entre uma normalista do Instituto de Educação e de um jovem estudante do Colégio Militar, nos anos 50, no Rio de Janeiro, serviu de pano de fundo para destacar o conservadorismo das famílias de classe média e para tocar em temas tabus da época como virgindade e o desquite.
Não há quem não tenha se encantado pela história de amor entre Lurdinha e Marcos, personagens interpretados por Malu Mader e Felipe Camargo (os dois estreando na Rede Globo). Aliás, tem algo mais romântico do que encontrar o grande amor de sua vida durante o baile de formatura? No caso de Lurdinha e Marcos foi amor à primeira vista. No entanto, os dois têm que enfrentar muitos obstáculos até conseguirem ficar juntos e felizes. Isto porque os pais de Lurdinha, dr. Carneiro (Cláudio Corrêa e Castro) e Dona Celeste (Yara Amaral), são extremamente conservadores e não admitem que sua filha se envolva com um rapaz que é filho de uma mulher desquitada.
Nos anos 50, a repressão sexual era muito intensa, e os jovens não podiam pensar em sexo. Por isso, Lurdinha questiona a mãe sobre os sentimentos e os desejos de uma mulher por um homem. Claro que Dona Celeste a reprime e afirma que "sexo é pecado, e só deve ser praticado depois de casada, para satisfazer o marido”. Confusa entre assumir o que sente e sobre a criação conservadora que teve, Lurdinha se afasta de Marcos, que acaba nos braços da jovem ousada e moderninha Rosemary (Isabela Garcia), e que por sinal era amiga de Lurdinha. Rosemary até posa de moderninha, mas no final das contas continua virgem, e mantém um romance com Urubu, um jovem extrovertido e simpático, e grande amigo de Marcos.
Apesar de todos os conflitos, o casal apaixonado se entrega e tem a primeira noite de amor (Marcos também era virgem). Uma cena linda, suave, romântica, delicada, inesquecível. Uma das cenas mais lindas já mostradas na televisão brasileira. Uma cena que certamente está entre as principais da teledramaturgia brasileira.
Como Anos Dourados é uma história de amor, no final, Lurdinha e Marcos terminam juntos e felizes. Mas, uma tragédia se abate sobre a família de Lurdinha. Durante anos, dr. Carneiro, o moralista pai de Lurdinha, teve uma amante. Ou seja, enquanto ele tinha comportamento e ideias conservadoras em casa, da porta para fora era um liberal, um hipócrita, podemos dizer assim, pois vivia uma relação extraconjugal. Quando sua mulher, Dona Celeste, descobre que ele tem uma amante, dr. Carneiro se suicida. Já a mãe de Lurdinha entra em depressão após se sentir humilhada pela situação a qual foi exposta por seu marido.
Já Glória (Betty Faria), a mãe de Marcos, vive situação totalmente oposta. Desquitada, ela se envolve com um homem casado, mas sem saber de sua situação matrimonial. Na minissérie é mostrada então a história do Major Dornelles (José de Abreu) que vive um casamento fracassado com Beatriz (Nívea Maria). No final, o Major Dornelles toma coragem e decide se separar de Beatriz (Nívea Maria) e viver ao lado de Glória, a mulher amada. Já Beatriz se "emancipa" e decide tomar as rédeas da própria vida.
Devido ao grande sucesso, Anos Dourados foi reapresentada em 1988 e, em 1990, na Rede Globo. A minissérie também foi lançada em vídeo, em 1990, e ganhou uma versão em DVD, em 2003. Já o canal Viva exibiu Anos Dourados em 2013. Mais uma vez, portanto, foi possível acompanhar uma das mais belas histórias de amor da televisão brasileira. Um sucesso que continua encantando gerações.
Até hoje Anos Dourados é uma das mais bem sucedidas minisséries brasileiras já produzidas pela Rede Globo. E são muito os fatores que fizeram e fazem até hoje a minissérie ser uma das mais lembradas.
O primeiro destaque é com relação aos temas abordados. Falar do primeiro amor, virgindade, desquite e traição no contexto dos anos 50, sem falso moralismo, foi com certeza um grande desafio para o autor Gilberto Braga. Além do mais, a minissérie também traçava um painel cultural, político e histórico da década de 1950, fazendo com que o telespectador fosse transportado para aquela época e entrasse no clima dos anos 50.
Outro destaque foi o figurino e a caracterização. Uma pesquisa detalhada foi feita para compor o visual dos personagens. Por isso, foi fácil nos transportarmos para os anos 50. As mulheres desfilavam com seus vestidos rodados feitos de tule, enquanto os homens usavam topetes com brilhantina, uma referêencia explícita a filmes como Juventude Transviada, com James Dean. Quem não gostaria de experimentar aqueles lindos vestidos, ou então vestir aquelas jaquetas de couro? Também chamou a atenção os cortes de cabelo, como os de Malu Mader, Isabela Garcia e Betty Faria (a personagem adota o corte de cabelo conhecido na época como “taradinha”: curto, mas com movimento, feito com pega-rapazes na franja). Um "must" da época.
O trabalho meticuloso da cenografia e direção de arte também não passou em branco. Por isso chamou a atenção a reconstituição do Rio de Janeiro da época. Não faltaram os objetos e adereços da época, como xícaras e louças em geral, canetas-tinteiro, rádios, entre muitos outros. Nem os postes de ferro dos anos 50 foram esquecidos. Além é claro de os personagens circularem em belos carros que faziam a cabeça dos rapazes dos anos 50 como cadillacs e automóveis rabo-de-peixe.
A trilha sonora foi um sucesso à parte. As músicas, todas belíssimas, faziam com que os telespectadores viajassem ainda mais nas histórias contadas na minissérie. A começar pelo tema de abertura, Anos Dourados (instrumental), de Tom Jobim, que, posteriormente, ganhou letra de Chico Buarque. Mesmo sem letra, a música era cantarolada sempre que aparecia na abertura da minissérie ou durante a apresentação de uma cena. Ah, também podia-se ouvir Franqueza (Maysa), Por Causa de Você (Dolores Duran), Alguém como Tu (Dick Farney) e As Praias Desertas (Elizeth Cardoso). Músicas belíssimas e inesquecíveis. Grandes clássicos da música brasileira.
É claro que se a minissérie retrata os anos 50 não podiam faltar grandes sucessos da música internacional. Por isso, estavam lá When I Fall in Love (Nat King Cole), Smoke Gets in Your Eyes (The Platters), What a Difference a Day Makes (Dinah Washington), I Apologize (Billy Eckstyne), Mon Manège a Moi (Edith Piaf), All of You (Ella Fitzgerald), Tu me Acostumbraste (Roberto Yanes), Accarezzame (Teddy Renno) e a instrumental Patricia (Perez Prado).

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