domingo, 22 de novembro de 2015

Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia

Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia



O preço dos carros brasileiros é sempre motivo de discussões acaloradas, e foi até parar no Senado Federal, que chamou representantes da indústria e comércio para esclarecer os fatores que influenciam os valores à população. Uns acham que eles estão caros como nunca, enquanto o pessoal que se lembra dos anos 1980 costuma dizer que nunca foi tão fácil comprar um automóvel no Brasil.
Pesquisamos os preços dos carros que realmente nos interessam — os esportivos brasileiros, desde o pioneiro Willys Interlagos – e com a ajuda de um economista os atualizamos de acordo com os índices econômicos de correção do Banco Central para descobrir quanto eles custariam em valores de 2015. Os preços atualizados estão sempre entre parênteses.

Década de 1960

Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
O primeiro esportivo do Brasil chegou às lojas em 1962, custando 2,7 milhões de cruzeiros (R$ 139.700) numa época em que as opções eram bastante reduzidas, e o carro ainda um artigo de luxo. O Fusca custava 1,45 milhões de cruzeiros (R$ 83.950) e era o carro de passeio mais barato do país. O Interlagos dividiu o status de esportivo com o Karmann-Ghia, que usava mesma mecânica do Fusca, e que custava quase o mesmo que o concorrente: 2,56 milhões de cruzeiros (R$ 139.700).
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
O Puma GT “Malzoni” foi lançado em 1967, no mesmo ano em que a Willys encerrava a produção do Interlagos e o Karmann-Ghia recebia mais potência com o motor 1500. O fora-de-série, ainda com mecânica DKW, saía por 1,35 milhão de cruzeiros (R$ 131.550). Como você vai reparar a seguir, os preços destes esportivos de construção artesanal e escala reduzida eram relativamente altos em comparação ao que viria na década seguinte.

Década de 1970

Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
O mercado de esportivos começou a esquentar na década de setenta, com a chegada do belo SP2 em 1972 por 30.900 cruzeiros (R$ 99.900). Mesmo sendo bonito, confiável e robusto, eu juntaria uns trocados e pagaria 31.500 cruzeiros (R$ 105.060) pelo Puma GTE, de desempenho e beleza semelhantes.
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
Se o seu negócio fosse carros maiores e mais nervosos, em 1975 tínhamos o Opala SS, o Maverick GT V8, o Dodge Charger R/T e o Puma GTB. Destes o mais barato era o Opala SS-6, que custava 64.000 cruzeiros (R$ 117.840), enquanto o Maverick cobrava 67.900 cruzeiros (R$ 125.030) por seu V8 302 canadense.
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
Se nosso colega Juliano Barata quisesse passear de Dodge por aí naquela época, precisaria abrir mais o bolso e desembolsar 82.350 cruzeiros (R$ 151.470) por um Charger R/T, uma bela economia diante do fora-de-série Puma GTB tabelado em 88.300 cruzeiros (R$ 162.500) e que vinha com o mesmo conjunto motriz do SS-6.
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Em 1976 a VW finalmente lançou um esportivo com motor refrigerado a água, muito mais moderno que seu boxer da década de 30 que equipava os “esportivos” SP2, Karmann-Ghia TC e Fusca 1600S. Por isso os 62.300 cruzeiros (R$ 82.700) parecem bastante razoáveis por um fastback alemão naturalizado brasileiro que, se não esbanjava potência, oferecia qualidades de condução incomparáveis para a época.
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Quando a Puma lançou o GTB S2 de 380.000 cruzeiros (R$ 201.200) no fim da década, o Charger R/T havia sido transformado em uma versão esquisita do comportado Magnum. Seus rivais Maverick GT e Opala SS tornaram-se esportivos de adesivo com seus motores de quatro cilindros e desempenho limitado. A coisa só voltaria aos eixos na década seguinte.

Década de 1980

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O mercado de esportivos voltou a esquentar novamente na metade dos anos 80, quando a Volkswagen colocou o motor 1.8 do Santana em um Gol e o envenenou com um comando de válvulas alemão, criando o primeiro Gol GT, de 13.2 milhões de cruzeiros (R$ 70.700). Seu principal rival era o Escort XR3, que não tinha o mesmo desempenho, mas era mais moderno e visualmente idêntico ao modelo europeu. Custava 15,3 milhões de cruzeiros (R$ 81.220) e tinha teto-solar de série. O XR3 conversível chegou um ano depois, quando a inflação levou seu preço a conversível a 72 milhões de cruzeiros (R$ 143.400).
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Outra opção interessante, mesmo em fim de carreira, era o Passat Pointer, encontrado por 550.000 cruzados (109.900 reais). Nessa mesma época a VW substituía o Gol GT pelo GTS, que em tempos de loucura econômica e inflação descontrolada era vendido por 523.200 cruzados (R$ 116.060). A Chevrolet participava discretamente do mercado de esportivos com o belo Monza S/R 2.0, de 473.400 cruzados (R$ 105.100).
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No ano seguinte a Fiat entrava na briga com o nervosinho Uno 1.5 R, o mais barato deles, custando 1,2 milhão de cruzados (R$ 75.750), e em 1989 o Escort XR3 finalmente ganhava desempenho com o motor AP1800 idêntico ao do Gol GTS, e custava o equivalente a R$ 113.330.

Década de 1990

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O fim da reserva de mercado também foi o fim dos esportivos carburados. O primeiro da nova geração eletrônica foi o Gol GTi, que entrou na década de 90 embalado pelo potente AP 2000, pronto para encarar o renovado Escort XR3 2.0 e o moderno Kadett GSi. Em um comparativo feito em 1993, o pequeno Volks ganhou na pista e na tabela: custava 307,3 milhões de cruzeiros (R$ 93.500), enquanto Kadett e Escort empatavam, custando 370,5 milhões (R$ 112.600) e 374 milhões de cruzeiros (R$ 113.600) respectivamente.
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A economia mais estável em 1994 resultou nos belos duelos entre os aspirados multiválvulas da Chevrolet – Corsa GSi, de 21.500 reais (R$ 90.900) e  Vectra GSi, de 39.000 reais (R$ 169.000) – e os turboalimentados da Fiat: o Uno Turbo de 22.500 reais (R$ 95.150) e o Tempra Turbo 33.270 reais (R$ 140.350).
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Depois foi a vez da Volkswagen atualizar seu Gol GTI, primeiro com o velho 2.0 8v e mais tarde com um moderno 2.0 16v trazido da Alemanha. Os modelos se diferenciavam pelas rodas, pela emblemática bolha no capô do modelo multiválvulas e, obviamente, pelo preço: R$ 22.800 (R$ 66.200 em 2015) o GTI 8v e R$ 30.900 (R$ 89.850 em 2015) o GTI 16v.
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
No fim dos anos 90 o Gol GTI passou a ser produzido apenas com o motor 16v e ganhou duas portas traseiras. A Ford, sempre na lanterna, limitou-se a criar um Escort RS sobre o modelo GL duas-portas, usando saias e spoilers, rodas exclusivas e painel de instrumentos de fundo branco. Custava R$ 25.000 (R$ 68.200 em 2015). A GM seguiu a mesma fórmula, oferecendo um Astra fantasiado por R$ 29.500 (R$ 73.500 em 2015).

Década de 2000

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Já nos anos 2000 a Fiat trouxe o Brava HGT , um modelo 1.8 oferecido por R$ 35.114 (R$ 73.350 atualmente) na época do lançamento. Mas o destaque mesmo era o lendário Marea Turbo de 182 cv, que brigava pelo topo da tabela de potência nacional com o também turbinado Golf GTI de 150 cv (potência que mais tarde aumentaria para 180 cv). Em 2003 a Fiat cobrava R$ 57.990 reais (R$ 97.600 em 2015), enquanto o hatch da Volkswagen saía por R$ 62.200 (R$ 105.600 em 2015). Houve ainda o Golf GTI VR6, limitado em 99 unidades, que custava assustadores  R$ 105.600  (R$ 177.200 em 2015) e curiosamente entregava quase o mesmo desempenho do GTI turbo.
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
Talvez para se redimir do Escort RS, a Ford acertou a mão ao colocar o motor 1.6 do moribundo Escort no pequenino Ka. Mesmo com modestos 96 cv ele provou ao país que diversão ao volante nem sempre se mede pela ficha técnica. A brincadeira custava R$ 25.500 (R$ 53.500 em 2015).
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
Depois de quase 10 anos o Brasil voltava a ter um esportivo fora-de-série: o Lobini H1 foi inspirado nos Lotus e usava o motor 1.8 turbo do Golf GTI. Mais leve e nascido para correr, seu desempenho era bastante superior. Sempre bem caro, custava R$ 170.000 (R$ 253.600 em valores atuais).
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Outro esportivo da Fiat foi o Stilo Abarth, que apesar do visual discreto, tinha motorização exclusiva de 2.4 litros, cinco cilindros e vinte válvulas, e recebeu o emblema do escorpião que caracteriza tradicionalmente os esportivos da Fiat. Vinha equipado com tecnologias inéditas em carros brasileiros, mas cobrava R$ 90.450 (R$ 144.600 em 2015) pela conveniência.
Quanto custaria os esportivos de antigamente hoje em dia
Um dos últimos – e melhores – esportivos nacionais foi o Civic Si, que na época de seu lançamento (lá se vão oito anos, galera…) custava R$ 99.000 (R$ 148.900 em 2015) e rivalizava com o decadente Golf GTI “Mk 4,5″, que teve sua injeção eletrônica remapeada para render 193 cv com gasolina de alta octanagem. Junto com a potência, o preço também subiu e foi para R$ 90.500 (R$ 136.200 em 2015).

Os valores foram consultados em tabelas de veículos novos de suas respectivas épocas e foram corrigidos pelos índices IGP-DI da FGV (veículos anteriores a 1979) e IPC-A e IPCA-E do IBGE (1980 em diante). Entre vários fatores, os índices estudam a relação entre renda média familiar mensal, o custo de vida e o gasto médio familiar mensal, portanto o valor dos carros corrigido simula o poder de compra de cada época. Agradecemos ao economista Januário Hostin Júnior pelas orientações na atualização dos valores.

Fonte: Portal Vídeos

sábado, 21 de novembro de 2015

O Melhor do Rock em 1988 - Playlist

Neste post, continuaremos a série de playlists abordando o rock em anos separadamente e nesse chegamos ao ano de 1988. Nesse ano teve ótimos álbuns que entraram para história do gênero como o "...And Justice For All" do Metallica que conteve seu primeiro videoclipe lançado na MTV da música "One"; o "New Jersey" do Bon Jovi que continha alguns sucessos do grupo, o épico álbum conceitual "Operation: Mindcrime" do Queensryche, o "Seventh Son of a Seventh Son" do Iron Maiden, entre outros. Veja abaixo algumas músicas de destaque na época e alguns álbuns também. No final da postagem tem os links para os anos anteriores.




Músicas contidas na playlist:


Metallica - One

Metallica - Blackened

Iron Maiden - The Evil That Men Do


Iron Maiden - Can I Play With Madness ?

Bon Jovi - Bad Medicine

Bon Jovi - Born To Be My Baby

Helloween - Eagle Fly Free

Helloween - I Want Out

Living Colour - Cult of Personality

Living Colour - Glamour Boys


Megadeth - In My Darkest Hour

Megadeth - Mary Jane

Queensrÿche - Eyes of a Stranger

Queensrÿche - I Don't Believe In Love

Guns N Roses - Patience

Guns N Roses - Used To Love Her

Poison - Every Rose Has It's Torn


Poison - Nothing But A Good Time

Van Halen - When It's Love

Roxette - The Look

Roxette - Listen To Your Heart

Joan Jett - I Hate Myself For Loving You

Cinderella - Don't Know What You Got (Till It's Gone)

Warrant - Heaven


Cheap Trick - The Flame

Danzig - Mother

Morissey - Suedehead

R.E.M - Stand

R.E.M - Orange Crush

U2 and BB King - When Love Comes To Town

U2 - Desire

Stevie Winwood - Roll With It

Beach Boys - Kokomo

Phil Collins - Two Hearts

Robert Plant - Tall Cool One

Lita Ford - Kiss Me Deadly

Lita Ford feat Ozzy Osbourne - Close My Eyes Forever

Vixen - Edge Of A Broken Heart

A-Ha - Stay On These Roads

A-Ha - You Are The One

Richard Marx - Hold On To The Night

Travelling Willburys - End of the Line

Janie's Addiction - Mountain Song

Janie's Addiction - Ocean Size

AC/DC - Heatseeker

Sonic Youth - Teenage Riot

Sonic Youth - Silver Rocket

My Bloody Valentine - You Made Me Realise

Ministry - Stigmata

Mudhoney - Touch Me I'm Sick

Dinosaur Jr - Freak Scene

Pixies - Where Is My Mind?

The Vaselines - Molly's Lips

The Vaselines - Jesus Doesn't Want Me For A Sunbeam

Slayer - South of Heaven

Metallica - ...And Justice For All

Bon Jovi - I'll Be There For You

Bon Jovi - Lay Your Hands On me

Iron Maiden - Seventh Son of A Seventh Son

Helloween - Dr. Stein

Roxette - Dangerous

U2 - Angel of Harlem

A-Ha - Touchy!

Janie's Addiction - Jane's Says

Cazuza - Ideologia

Cazuza - Faz Parte do Meu Show

Cazuza - Brasil

Engenheiros do Hawaii - Somos Quem Podemos Ser

Engenheiros do Hawaii - Nunca se Sabe

Ira! - Rubro Zorro

Barão Vermelho - Lente

Barão Vermelho - Pense e Dance

Capital Inicial - Fogo

Capital Inicial - Ficção Científica

Léo Jaime - Conquistador Barato

Léo Jaime - Gatinha Manhosa

Lobão - Por Tudo que For

Lulu Santos - Toda Forma de Amor

Lulu Santos - A Cura

Os Paralamas do Sucesso - O Beco

Os Paralamas do Sucesso - Uns Dias

RPM - Quatro Coiotes

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Pesquisador brasileiro ‘desvenda’ história em músicas do Iron Maiden

O professor Lauro Meller analisou músicas do Iron Maiden que tratam de momentos históricos
O professor Lauro Meller analisou músicas do Iron Maiden que tratam de momentos históricos

No cockpit de um avião da Força Aérea Real, em alucinante perseguição pelos ares durante a Segunda Guerra, o piloto inglês mira o inimigo nazista e aperta o gatilho.
Fernanda Portugal, na BBC Brasil
Num campo de batalha na Crimeia, em 1854, em meio ao cheiro de pólvora e à respiração dos cavalos, o soldado britânico cai paralisado e com a garganta seca ao ser baleado pelos russos. Dentro de uma fria cela medieval, o condenado à morte pela Inquisição descreve seus últimos momentos, enquanto aguarda pelo carrasco.
A presença de cenas da história mundial em músicas da lendária banda de heavy metal britânica Iron Maiden ­– que acaba de lançar um novo álbum e fará shows em vários países do mundo a partir de fevereiro – tornou-se alvo de pesquisa acadêmica no Brasil.
Nos artigos técnicos Temas Históricos em Canções do Iron Maiden, partes 1 e 2, Lauro Meller, doutor em Letras pela PUC de Minas Gerais e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), traça uma linha cronológica da Pré-História à Segunda Guerra Mundial com a análise minuciosa de sete músicas do grupo.
“O Maiden presta uma grande contribuição ao despertar a curiosidade do seu público, principalmente o mais jovem: as canções se tornam portas de entrada para outros conhecimentos”, afirma o paraibano de 41 anos, que na UFRN coordena o Grupo de Estudos Interdisciplinares em Música Popular.
Ele ressalta que, desta forma, o sexteto britânico se distingue de boa parte das outras bandas de heavy metal, cujas letras abordam “violência, drogas ou mulheres, num ponto de vista quase sempre machista”.
A análise de Meller não se restringe às letras. Guitarrista, violonista e baixista afiliado à Ordem dos Músicos do Brasil, ele destrincha linhas melódicas, arranjos, registros vocais, riffs e solos de guitarra – e como estes ingredientes musicais potencializam a mensagem de cada canção.
Bruce Dickinson (o único de cabelo curto) e seus colegas de Iron Maiden lançaram novo disco
Bruce Dickinson (o único de cabelo curto) e seus colegas de Iron Maiden lançaram novo disco

“O Maiden associa às letras o instrumental grandioso, próprio do heavy metal. É possível estabelecer paralelo entre o heavy metal e a música erudita, principalmente a do século 19 no sentido do volume sonoro ‘poderoso’ e dos temas de guerras”, descreve o pesquisador, citando a Sinfonia 1812, escrita por Tchaikovsky em 1880, que retrata batalha travada entre França e Rússia, e ainda composições de Richard Wagner para orquestras com mais componentes do que era o padrão – aumentando, portanto, o “volume sonoro”.
No álbum recém-lançado (The Book of Souls), chamou atenção do público e da crítica a faixa Empire of the Clouds, que mais uma vez narra um episódio histórico: desta vez, o acidente com o dirigível britânico R101, que caiu na França em sua viagem inaugural, em outubro de 1930.
Com 18 minutos, é a canção mais longa de toda a discografia do Iron Maiden, grupo com quase 40 anos de estrada. Além disso, de maneira inusitada para os fãs, mescla piano, violino e violoncelo às três guitarras, à dupla baixo/bateria e à potente voz do cantor Bruce Dickinson, autor da obra.
A canção inspirou Meller a decidir mergulhar, em 2016, na produção de um livro que incluirá análises desta e de outras músicas, além das sete que integram os artigos já produzidos e divulgados na íntegra na publicação técnica Revista Brasileira de Estudos da Canção.
“Vou ampliar os textos, de modo a publicar um trabalho de grande fôlego. O título seria Temas Históricos e Literários nas Canções do Iron Maiden, incluindo também faixas inspiradas na literatura”, revela o estudioso, citando como um dos objetos do trabalho a antológica The Rime of the Ancient Mariner, lançada pelo Maiden em 1984 e baseada em obra do poeta romântico inglês Samuel Taylor Coleridge.
The Rime, com seus 13 minutos, era a mais longa faixa da banda até Empire of the Clouds.
“Será um projeto desafiador e importante, pois ainda não encontrei, principalmente em português, trabalhos de cunho acadêmico e analítico sobre a obra dessa singular banda, apenas biografias”, explica o professor, que vai aliar o novo projeto ao pós-doutorado em música popular, a partir de janeiro, na Universidade de Liverpool, berço dos Beatles.
Acidente com dirigível R101 (na foto em voo teste sobre Londres, em 1929) é tema de nova música
Acidente com dirigível R101 (na foto em voo teste sobre Londres, em 1929) é tema de nova música. Aerofilms l A History of Britain from Above
Faixas analisadas
Sete canções foram escolhidas por Meller para os artigos já publicados, entre as inúmeras composições do Maiden com alusões históricas. Ficou de fora, por exemplo, Paschendale (2003), sobre uma batalha entre britânicos e alemães na Primeira Guerra Mundial.
Alguns episódios são contados em terceira pessoa. Outros, na “voz” de anônimos, o que “contribui para maior dramaticidade e faz o ouvinte sentir-se ‘na pele’ do personagem”, observa o professor. Confira:
Quest for Fire (Busca pelo Fogo), 1983: narra como a fonte de luz e calor foi pivô de sangrentas batalhas pelas tribos pré-históricas.
Alexander the Great (Alexandre, o Grande), 1986: percorre a biografia do soberano da Macedônia, nos anos 300 a.C.
Invaders (Invasores), 1982: fala sobre as invasões dos vikings à Europa, entre os séculos 8 e 9.
Hallowed be Thy Name (Santificado Seja o Vosso Nome), 1982: trata das horas anteriores à execução de um herege pela Inquisição. Em primeira pessoa, leva o ouvinte para dentro da cela do condenado.
Run to the Hills (Corram para as Montanhas), 1982: traz duas óticas distintas – a dos homens brancos e a dos indígenase – durante as batalhas na época da ocupação da América do Norte (anos 1790-1850).
The Trooper (O Soldado), 1983: sobre a Batalha de Balaclava, da Guerra da Crimeia, envolvendo britânicos e russos, em 1854. Em primeira pessoa, um combatente da cavalaria inglesa desafia o inimigo, mas depois detalha a própria morte.
Aces High (Ases no Céu), 1984: Na introdução, ouve-se trecho do discurso de 18 de junho de 1940 do primeiro ministro britânico Winston Churchill, exortando os ingleses à batalha na Segunda Guerra. A canção descreve combate com a Luftwaffe de Adolf Hitler. Guitarras simulam, usando o efeito ‘tremolo’, o som dos ‘mergulhos’ das aeronaves. ____________________________________________________________________
Análise resumida da nova ‘Empire of the Clouds’, por Lauro Meller
A canção conta a história do dirigível R101, construído pelo governo britânico em 1929-1930, para deslocar dignatários aos recantos mais longínquos do Império. Era o maior dirigível do mundo e, tal como o Titanic, protagonizou uma catástrofe em sua viagem inaugural.
Em outubro de 1930, a caminho da Índia, atravessou, ao sobrevoar a França, uma forte tempestade, que arrancou o seu revestimento externo e deixou os reservatórios de hidrogênio desprotegidos. O consequente incêndio a bordo derrubou a aeronave.
A letra narra, passo a passo, a tormenta, o acidente e a desolação que se segue à morte de passageiros e tripulantes.
O letrista (Bruce Dickinson) opta por uma abordagem descritiva. Assim como no Paul McCartney de Penny Lane ou no Peter Gabriel de Get’em Out by Friday, é possível visualizar a narrativa, como se fosse um filme. O arranjo é construído de modo minimalista: os vários elementos vão sendo introduzidos paulatinamente. O acompanhamento musical “comenta” todas as etapas da narrativa.
À calmaria inicial, com destaque para piano, violino e violoncelo, seguem-se bateria e guitarras a pleno vapor, e a explosão da voz de Dickinson em registro médio-agudo, quando, por exemplo, a letra cita o gigantismo do R101, maior que o famoso cruzeiro Titanic. A voz pouco a pouco vai alcançando registros mais agudos, semioticamente representando a impaciência de uma tripulação que quer partir, mesmo com as condições adversas.
Dirigível caiu em solo francês após pegar fogo durante voo em outubro de 1930 . Wikipédia
Dirigível caiu em solo francês após pegar fogo durante voo em outubro de 1930 . Wikipedia

A voz atinge registro plenamente agudo, indicando uma gradual tensão, reforçada com a introdução de uma frase melódica repetitiva ao piano, que marca um diálogo entre um subordinado e o capitão. O primeiro diz que a aeronave jamais conseguirá cumprir o seu voo e o segundo insiste em prosseguir.
Na passagem, Dickinson dá voz aos anônimos da história e nos faz testemunhas desse diálogo em que a impaciência e a soberba, calcada na hierarquia, seriam responsáveis por uma tragédia.
Mais adiante, ouvem-se sequências de batidas executadas pela bateria, pelas guitarras e pelo baixo em sincronia, gradualmente tornando-se mais lentas e em desenho melodicamente descendente, como que transpondo, no plano musical, a curva também descendente da aeronave.
Na realidade, essas batidas (três curtas, três longas, três curtas) correspondem à sigla S.O.S. (Save our Souls ou Save our Ship), em código morse.
Aos 12 minutos e meio, os vocais retornam após uma longuíssima passagem instrumental, com versos cantados em registro agudo limite para o vocalista. Percebe-se sua dificuldade em atingir as notas mais altas, o que pode ser lido como uma limitação técnica, mas que contribui, semioticamente, para a construção da imagem de desespero em relação ao acidente.
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