Um programa sem roteiro, tosco, onde reinava o improviso, o humor e a irreverência tinha tudo para dar errado. Mas, com o Perdidos na Noite, apresentado por Fausto Silva nos anos 80, foi diferente. O programa não só deu certo como é lembrado até hoje com muitas saudades por muitos fãs que adoravam o clima de improvisação e anarquia que acabou se tornando marca registrada do programa.
Como o programa não tinha muito orçamento, era preciso improvisar e ser criativo para driblar as situações inesperadas que aconteciam a qualquer momento. Não era raro ocorrerem acidentes ao vivo, como tropeções em cabos ou falhas técnicas na captação das imagens. Até mesmo funcionários do programa podiam passar na frente das câmeras no momento da transmissão. Nessas horas, o que seria uma tragédia em qualquer outro programa de televisão era desculpa para que Fausto Silva não perdoasse a falha e desse bronca em todos que trabalhavam no programa, desde a produção até os câmeras e direção. Ele não perdoava o erro de ninguém, aliás nem mesmo os erros dele. Fausto Silva não se importava em ser politicamente incorreto e até falava palavrão no ar. Talvez por ter sido repórter esportivo, ele tinha rapidez de raciocínio e sabia improvisar diante de qualquer situação que surgisse durante a realização do programa. Como não tinha script pré-estabelecido, tudo podia acontecer.
O apresentador realmente não se levava a sério e era capaz de rir de si próprio, além de também debochar do seu próprio programa. Era comum ele dizer: "espelho, espelho meu, existe algum programa pior do que o meu?". Aliás, ninguém escapava do humor e das brincadeiras de Fausto Silva, nem seus convidados (muitos nomes da MPB se apresentaram no programa), nem os políticos (ele não pensava duas vezes em criticar abertamente personalidades da política como o então presidente José Sarney, por exemplo). Nem a plateia escapava das brincadeiras dele. Aliás, ela até colaborava com a dinâmica do programa, já que muitas pessoas escreviam cartazes irreverentes que Fausto Silva fazia questão de ler e mostrar no ar. Perdidos na Noite era um escracho total e absoluto, porém dava certo porque tinha no comando um apresentador que tinha o domínio do palco, rapidez de raciocínio, sabia se expressar bem, não se levava a sério, mas era um super profissional, que sabia conduzir o programa mesmo com toda a anarquia que dominava o programa de auditório.
Uma das grandes atrações de Perdidos na Noite era a apresentação da dupla Nélson “Tatá” Alexandre e Carlos Alberto “Escova”. A dupla Tatá e Escova era super debochada e dava o toque de humor durante o programa. Eles faziam várias imitações no palco e não se preocupavam em ser politicamente corretos. Escova, por exemplo, tinha uma lista enorme de políticos e personalidades a serem imitadas. Vale destacar os ex-presidentes Jânio Quadros, Sarney, Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva, o locutor esportivo Galvão Bueno, o ex-pugilista Maguila, o apresentador de TV Jacinto Figueira Júnior (mais conhecido como O Homem do Sapato Branco). Também eram hilárias as imitações do apresentador Clodovil, do ex-governador Leonel Brizola, e dos jornalistas Paulo Henrique Amorim (Paulo Henrique Tamborim) e Sandra Passarinho e Leila Cordeiro.
O jeito irreverente, o humor ácido de Fausto e o clima de bagunça e desordem que o programa apresentava dividia a crítica especializada. Uns achavam o programa demasiadamente exagerado, enquanto que outros acreditavam que o programa trazia um frescor para a televisão, justamente por não seguir os padrões de programas que o telespectador estava acostumado a assistir. Mas, enquanto a crítica se dividia com relação ao Perdidos na Noite, os telespectadores aprovavam a forma como o programa era apresentado, tanto que Perdidos na Noite se transformou numa diversão trash, porém cult. Apesar do horário em que era transmitido, o programa contava com uma boa audiência, principalmente entre os homens. Realmente deixou imensas saudades, pois a partir daí, os programas que vieram em seguida (inclusive o domingão do Faustão, seu próximo programa já em outra emissora) perderiam essa mágica do improviso e alegria.
Antes de se tornar um apresentador de sucesso na televisão, Fausto Silva começou a sua carreira como repórter de rádio, no interior de São Paulo. Ele passou pela rádio Centenário de Araras, onde começou, rádio Cultura, em Campinas, e pelas rádios Record, Jovem Pan (onde começou como repórter esportivo), Globo e Excelsior, na cidade de São Paulo. Faustão teve destaque como repórter esportivo.
Na rádio Excelsior, trabalhou com os jornalistas Osmar Santos e Juarez Soares no programa de humor "Balancê". Os cômicos Nélson “Tatá” Alexandre e Carlos Alberto “Escova” também faziam parte da equipe. Com a saída de Osmar Santos e Juarez Soares para a televisão, em 1983, Fausto, que trabalhava como repórter e eventualmente assumia o microfone, passou a ser o apresentador do programa junto com a dupla de humoristas. O lado cômico e escrachado do programa ficou ainda mais acentuado.
Inicialmente, o programa "Balancê" era feito em estúdio, mas com a chegada de Fausto Silva ele passou a ser realizado em um teatro com direito a uma plateia de cem pessoas. Em São Paulo, "Balancê" fez um enorme sucesso, tanto que apesar de ser um programa diferente, pois era debochado, irreverente e tinha doses de escracho explícito, artistas e políticos não deixavam de participar do programa de rádio. Foi na época de "Balancê" que começou a parceria entre Fausto Silva e Lucimara Parisi, ex-telefonista da Rádio Globo e secretária de Osmar Santos, que passou a assumir a produção do programa. Foram três anos de sucesso do programa "Balancê".
A carreira de Fausto Silva começou a mudar quando o jornalista Goulart de Andrade o convidou para levar o programa "Balancê" para a televisão. Goulart de Andrade ficou impressionado com a performance de Fausto no comando do "Balancê". Assim, em 1984, Fausto Silva e sua equipe estreavam o Perdidos na Noite, dentro do espaço noturno ocupado pelo Programa Goulart de Andrade, na TV Gazeta. O programa era gravado no Teatro Brigadeiro, em São Paulo, e exibido nas noites de sábado.
Ainda em 1984, o quadro deu origem ao programa de auditório na TV Record. Inicialmente, o Perdidos na Noite era transmitido nas madrugadas de sábado para domingo, apenas para São Paulo. Tempos depois também passou a ser exibido para o Rio de Janeiro. Dois anos depois, em 1986, Fausto Silva estreava o programa na TV Bandeirantes, nas noites de sábado, e em rede nacional. Em 1987, passou a apresentar outro programa, em paralelo, na Bandeirantes: o Safenados e Safadinhos.
Foi na TV Bandeirantes que começou a chamar a atenção da TV Globo. Assim, depois de quase três anos no comando do Perdidos na Noite, Fausto Silva se transferia para a Rede Globo para apresentar o Domingão do Faustão. Lucimara Parisi, que trabalhou com ele durante muitos anos, deixou a parceria com o apresentador em 2009. Atualmente, em 2013, Faustão é apenas uma vaga lembrança do apresentador que comandava um dos programas mais anárquicos da TV brasileira, o Perdidos na noite.
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