Motörhead faz show alto, mas morno, em Porto Alegre
Judas Priest faz show teatral e cheio de ótimos riffs em Porto Alegre
Ozzy: "Eu malho todos os dias, não uso drogas. Estou saudável como nunca"
Ozzy Osbourne comanda metaleiros com a facilidade das lendas.
Líder do Black Sabbath se apresentou no festival Monsters Tour, que aconteceu nesta quinta, no Estádio do Zequinha, em Porto Alegre
Ozzy Osbourne puxou coro e comandou braços dos fãs no show de 1h20min em Porto AlegreFoto: Carlos Macedo / Agencia RBS
Sempre que Ozzy Osbourne se sentir desanimado, tiver uma briga mais séria com a Sharon ou quiser saber se ainda é aquilo tudo que foi, é só vir a Porto Alegre. Como já havia acontecido nas outras vezes em que veio à Capital (sozinho ou com seus parceiros de Black Sabbath), o morcegão foi recebido com barulho e carinho intermináveis pelos metaleiros gaúchos. E, durante o tempo em que ficou no palco do Zequinha – exatas 1h20min –, ele fez de tudo para agradecer: puxou grito, mandou beijinho, ajoelhou-se no chão duas vezes e sacramentou:
– Vocês são os fucking melhores!
Mas, também, show do Ozzy é uma barbada. Cercado de músicos mais jovens e dono de um cardápio de hits que já tem quase 50 anos, resta ao vocalista subir ao palco e fazer o que ele faz melhor: cantar. Antes da primeira música, o público já estava em chamas – diferente da frieza com que o Motörhead foi recebido ou o respeito com que o Judas Priest começou sua apresentação, Ozzy parecia um astro teen e, o público, menininhas menores de idade. Não é à toa que deram para o cara um reality show na MTV.
Musicalmente, o show foi bastante parecido com as outras apresentações de Ozzy em Porto Alegre: sucessos do Black Sabbath, como Paranoid e War Pigs, eram cantados até na parte instrumental, enquanto hits da carreira solo, tipoMr. Crowley e Crazy Train, recebiam ânimo extra pela intensa movimentação do sessentão. Aliás, Ozzy parece saudável e animado.
Se é possível destacar uma diferença entre a apresentação do Black Sabbath e a de Ozzy solo em Porto Alegre é a seguinte: com sua banda original, o show toma ares de hard rock e stoner. Com os jovens músicos da carreira solo, a apresentação pende mais para o metal, com mais solos e dedilhados. Ao que parece, Porto Alegre aprova ambos. E Ozzy aprova Porto Alegre.
Motörhead faz show alto, mas morno.
Talvez tenha sido o frio, que chegou de vez em Porto Alegre. Quem sabe, o público, que demorou a entrar no Estádio do Zequinha. Quiçá, a doença que acometeu Lemmy Kilmister no início da semana e o tirou de um show em São Paulo. A realidade é que, apesar de bom, o show do Motörhead no festival Monsters Tour foi menos do que poderia ser.
Como de praxe, Lemmy abriu os trabalhos com a frase "nós somos o Motörhead e tocamos rock 'n' roll". No início, a relação banda-público teve alguma rusga: em determinado momento, o baterista Mikkey Dee levantou e fez um gesto de sono, com as duas mãos espalmadas abaixo da cabeça, como quem diz "acordem". Um pouco depois, Lemmy fez um apelo:
– Nós somos só três e fazemos muito barulho. Vocês são centenas, eu quero ouvir dor!
Instigados pela banda e levados pelo som altíssimo da apresentação, o público reagiu com palmas e gritos. Porém, não foram poucos os fãs do grupo que ficaram boa parte do show esperando na fila.
Apesar de tudo, Lemmy é um personagem extremamente forte. A todo mundo, gritos de seu nome espocavam no estádio e ganhavam força, fazendo o vocalista parar para ouvir. Com seu vozeirão característico, o britânico comanda uma banda que é quase punk, dada a velocidade de suas músicas, a simplicidade de seus riffs e a força que os três membros apresentam juntos. Até por isso, a frase "eu chamo de rock, mas, se tivesse que escolher, diria que somos mais punk do que metal" é creditada ao frontman. E quem foi ao Monsters Tour viu que é verdade.
No fim das contas, ficou um gosto amargo na língua. Esse show podia ter sido mais. Seja qual for o motivo, podia ter sido mais.
Judas Priest faz show teatral e cheio de ótimos riffs.
Para quem queria um show de metal, o Judas Priest foi a grande atração do Monsters Tour, festival que foi madrugada a dentro em Porto Alegre nesta quinta-feira. Com uma apresentação quase teatral, Rob Halford e seus parceiros mostraram que tem um público muito fiel no Rio Grande do Sul. Seja em clássicos como Breaking the Law e Painkiller, ou em músicas do recente Reedemer of Souls, de 2014, os experientes metaleiros britânicos tiveram a participação da plateia em todas as músicas tocadas. Afinal, era um festival de metal.
Se Halford é o personagem a se prestar atenção no show do Judas Priest, o novo guitarrista Richie Faulkner faz de tudo para roubar a cena. Com 28 anos a menos que o frontman, ele esbanja energia e não para de se dirigir à plateia. Joga palhetas, aponta para fãs, faz coreografias, exagera intencionalmente no gestual dos solos – tudo para agradar o público, que responde positivamente, sempre. E Faulkner se encaixa bem na apresentação do Judas Priest: exagerada, cênica, com trocas de figurinos, explosões e um telão frenético.
Constantemente trocando de figurino, o vocalista Rob Halford entre montado em uma Harley-Davidson em determinado momento do show. Em outro, empunha um cetro (os maldosos dirão que é uma bengala, exigência da idade) e entra como um rei no palco. Já no fim, abre a camisa e exibe a barriga que é fruto dos 63 anos, tapada de tatuagens.
Se Ozzy Osbourne fez um show de hard rock travestido de metal e o Motörhead tocou punk, o Judas Priest fez a alegria de quem foi ao Zequinha assistir heavy metal de qualidade. Talvez seja por isso que, na metade do show, Rob Halford parou, olhou para a plateia – que estava quase toda com as mãos para o alto – e fez um joinha, como quem diz "é para gente como vocês que gostamos de tocar".
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