O escritor baiano Jorge Amado retratou no livro Tenda dos Milagres, em 1969, a luta do povo negro para manter vivas as culturas negras e mestiça na Bahia. E foi justamente essa história que foi retratada na minissérie homônima, escrita por Aguinaldo Silva e Regina Braga, e que a TV Globo exibiu nos anos 80. Pedro Arcanjo (Nelson Xavier) é o personagem principal da narrativa. A partir de suas lembranças, quando ele está à beira da morte, é que o público fica conhecendo a sua história e também a do povo negro.
Tenda dos Milagres começa em 1930. Pedro Arcanjo se sente mal nas ruas do Pelourinho e é levado para a casa de Cesarina (Ângela Leal). Lá, ele começa a relembrar o seu passado. Por isso, a narrativa não começa em 1930, mas sim no ano de 1913, época em que os negros eram discriminados e perseguidos em Salvador. Ou seja, a cultura negra não tinha vez, não tinha voz, não era respeitada. Mas, com a ajuda da mãe de santo Magé Bassã (Chica Xavier) e seu pai, Xangô, Pedro Arcanjo descobre que tem uma missão: ser a luz de seu povo. E é por seu povo e pela preservação e difusão da cultura negra que Pedro Arcanjo enfrenta todo o tipo de preconceito.
Pedro Arcanjo é um mestiço pobre, que se relaciona com todo o tipo de gente, como pais de santo, prostitutas e mestres de capoeira. Ele tem algum estudo, e acaba entrando para a Faculdade de Medicina da Bahia. É claro que sua ascensão não é bem vista pela elite branca da Bahia. A começar pelo racista Nilo Argolo (Oswaldo Loureiro), um médico-legista que faz de tudo para provar a superioridade da raça branca através de pesquisas científicas. Influente e poderoso, ele conta com a ajuda do delegado Francisco Mata Negros (Francisco Milani) para reprimir as manifestações culturais dos negros.
Depois de relembrar o passado e mostrar o início da trajetória de Pedro Arcanjo, é hora de voltar para o anos de 1930. Nessa época, destaca-se o envolvimento de Pedro Arcanjo com duas mulheres: a bela Rosa de Oxalá (Dhu Moraes), mulher de seu fiel amigo e companheiro Lídio Corró (Milton Gonçalves) e a jornalista Ana Mercedes (Tânia Alves), que funda o jornal Tenda dos Milagres para lutar contra a discriminação racial. Pedro Arcanjo se apaixona por Ana Mercedes.
Pedro Arcanjo sofre na pele o preconceito dos brancos contra os negros. Mas, por ironia do destino ele descobre que é primo de Nilo Argolo. É claro que Nilo não aceita o parentesco com um negro e acaba convencendo os professores e diretores do curso de medicina a expulsarem Arcanjo da faculdade. Os alunos não aceitam essa discriminação e se revoltam. Vão para as ruas e é aí que ocorre uma tragédia. Na confusão, Lídio Corró morre, após levar um tiro de um policial. Já Pedro Arcanjo é preso, assim como Ana Mercedes.
Com as prisões, o delegado Sarmento (Ivan Candido) acredita que a revolta do povo está sob controle e que haverá um enfraquecimento do movimento negro. Isso é um engano. Cansado de tanta opressão, o povo continua revoltado e faz pressão em frente a delegacia para que Pedro Arcanjo seja libertado. O delegado está irredutível e não tem intenção alguma de se submeter a vontade do povo. Só que ele é convencido por Jerônimo (Cláudio Marzo), João Reis (Mário Lago) e o professor Fraga Neto (Gracindo Junior) de que é melhor libertar Pedro e Ana, para que não haja um derramamento de sangue. Assim, sentindo-se pressionado, o delegado decide libertar Pedro Arcanjo, que sai da prisão e é aclamado pelo povo.
Nas cenas finais da minissérie, o público retorna a acompanhar os últimos momentos de Pedro Arcanjo, que agoniza nas ruas de Salvador. Ele morre, mas a sua missão foi cumprida, pois a cultura mestiça começa a ganhar força na Bahia e em todo o Brasil.
Tenda dos Milagres fala ainda sobre os amores aparentemente impossíveis, como o de Budião (Antonio Pompeo) e Sabina (Solange Couto), que não podem ficar juntos pela incompatibilidade entre seus santos. Outro romance polêmico é entre Damião (Joel Silva) e Luísa (Julia Lemmertz). Ele, negro, ela, branca, filha de Nilo Argolo. Os dois enfrentam os preconceitos familiares e da sociedade em nome do amor e se casam. Quando descobre que sua filha casou com um negro, o professor Argolo, sofre um derrame cerebral. Com graves sequelas, ele acaba inválido, preso a uma cama.
NO LIVRO, TELEVISÃO E NO CINEMA:
Adaptar a história de um livro para a televisão é super importante, já que muitos brasileiros devido a outras necessidades não investem o seu dinheiro na compra de livros. Além do mais, ainda existe no país um grande número de analfabetos. No entanto, em 1985, quando a minissérie foi ao ar muitos brasileiros descobriram o livro Tenda dos Milagres, fazendo com que as vendas do livro aumentassem. Era a força da televisão impulsionando a literatura no Brasil.
Foram necessários 30 capítulos para contar a história de Tenda dos Milagres. É claro que grande parte das cenas foram feitas em locações de Salvador e Cachoeira, na Bahia. Porém, algumas também foram feitas no Rio de Janeiro, principalmente as de estúdio.
Para transportar para a televisão o universo descrito por Jorge Amado, foi necessário fazer uma minuciosa pesquisa, principalmente da arquitetura que compreendia os anos de 1913 e 1930. O cuidado era tanto ao retratar aquela época que foi preciso pintar as casas com as cores antigas e, em seguida, pintá-las novamente com as cores originais. Os figurinos, costumes e rituais do candomblé também mereceram atenção especial.
Assim como outras obras da literatura brasileira, Tenda dos Milagres também chegou ao cinema. Foi no ano de 1977 quando o diretor Nelson Pereira dos Santos filmou a história de Pedro Arcanjo, o ojuobá (olhos de Xangô), no Candomblé.
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