Um dos principais programas de humor nos anos 80 foi, sem dúvida, o TV Pirata, exibida pela TV Globo entre 1988 e 1990 (semanalmente, às terças-feiras), e depois em 1992 (mensalmente). O início não foi nada animador, já que muitos telespectadores não entendiam muito bem as piadas, baseadas no nonsense e na sátira, e nem estavam acostumados a ver atores dramáticos fazendo comédia. Afinal, o tradicional era os comediantes fazerem humor. Outro ponto que causou estranheza foi o fato de o programa não trazer quadros fixos como os clássicos programas de humor, por isso a cada semana podiam ser apresentadas novas atrações, já que nenhum quadro tinha espaço garantido no TV Pirata. Por causa desse estranhamento inicial, o programa quase foi cancelado.
Mas na verdade o TV Pirata estava revolucionando a linguagem do humor na TV brasileira, com uma inovação nunca antes vista e imaginada na televisão aberta, acostumada a fórmulas de décadas.
Aos poucos, o programa foi conquistando os telespectadores, mesmo porque ele tinha no texto um de seus trunfos principais. O roteirista Cláudio Paiva, o escritor Luís Fernando Veríssimo Escrito, os quadrinistas Laerte e Glauco, e integrantes do Planeta Diário e da Casseta Popular, que viriam a se reunir e formar o Casseta & Planeta, eram somente alguns roteiristas do programa que criaram os diversos personagens que até hoje são lembrados pelo público que acompanhou e se divertiu com o programa de humor. A criação e direção foi de Guel Arraes.
Além dos redatores do programa, o sucesso do TV Pirata também se deve muito ao elenco formado por atores e atrizes de grande talento como Cláudia Raia, Débora Bloch, Louise Cardoso, Cristina Pereira, Marco Nanini, Diogo Vilela, Ney Latorraca, Guilherme Karan, Pedro Paulo Rangel, que deram vida a personagens inesquecíveis como Tonhão, Barbosa, e Zeca Bordoada, entre outros. Maria Zilda Bethlem e Denise Fraga também trabalharam no programa, mas não fizeram parte do elenco que estreou TV Pirata.
Nada escapava do humor da TV Pirata, até mesmo a programação da Globo, já que TV Pirata adorava satirizar programas emissora, seja novelas, telejornais, seriados, programas de entrevista, shows, videoclipes ou programas femininos. Entre os programas que receberam homenagem especial da TV Pirata destaque para a novela Roda de Fogo (Fogo no Rabo), o programa feminino TV Mulher (TV Macho) e Globo Rural (Campo Rural). Além disso, os esquetes do humorísticos continham piadas sobre política, economia, futebol e celebridades, entre outros. No entanto, como o programa tinha muitos quadros, alguns tiveram duração maior enquanto que outros ficaram pouco tempo no ar.
Depois de ficar um ano fora do ar, TV Pirata voltou a grade da Globo, só que desta vez mensal. Desta vez não havia mais quadros nem personagens fixos (o único era Caveira, personagem de Antônio Calloni), e o programa passou a ser temático. Os atores Marisa Orth, Otávio Augusto e Antonio Calloni integraram o elenco. Da formação original ficaram Débora Bloch e Guilherme Karan, enquanto que Cláudia Raia retornou a atração. Os redatores Alexandre Machado, Beto Silva, Bussunda, Claudio Manoel, Helio de La Peña, Marcelo Madureira, Mauro Rasi, Reinaldo e Expedito Faggione integraram a equipe do TV Pirata.
Hoje, pode-se dizer que TV Pirata fez história na televisão por romper com o estilo de comédia tradicional, tendo se consolidado como um fenômeno do humor brasileiro. O programa também marcou profundamente uma geração que sente muitas saudades do humorístico até hoje. No entanto, quem tem TV a cabo pode acompanhar a reprise do programa no Canal Viva, a partir de 2011.
Fogo no Rabo – Paródia na novela Roda de Fogo, exibida pela Globo em 1986. O quadro teve 33 capítulos. Foi sem dúvida um dos quadros mais marcantes da TV Pirata. Participaram de Fogo no Rabo os atores Luís Fernando Guimarães (Reginaldo), Cláudia Raia (Penélope), Débora Bloch (Natália), Ney Latorraca (Barbosa), Louise Cardoso (Clotilde), Diogo Vilela (Amílcar), Regina Casé (Dona Mariana) e Guilherme Karam (Agronopoulos).
TV Macho – Versão escrachada e debochada do programa TV Mulher, exibido pela Globo entre 1980 e 1986. Zeca Bordoada (Guilherme Karam) era o apresentador que já iniciava o programa sem papas na língua: "Boa noite, pessoal da maromba, rapaziada macha do Brasil! Estamos mais uma vez aqui com um programa feito para você que é macho de verdade. Por quê? Tá com alguma dúvida? Então desliga logo esse televisor, antes que eu vá aí e parta a tua cara, sua bicha!”.
Zeca Bordoada era o típico representante dos machos, que fazia questão de mostrar que homem que é homem tem mesmo que cuspir no chão, coçar as partes íntimas e partir para a briga. Ao entrevistar seus convidados na TV Macho (machos e machonas), Zeca Bordoada sempre fazia comentários cafajestes. Ele também tinha rompantes de fúria e sempre ameaçava “dar uma bifa” em alguém. Não era incomum o quadro terminar com o entrevistador descendo a bordoada no convidado ou no cameraman.
As Presidiárias – As presidiárias Tonhão, Olga de Castro, Isabelle Duffon de Montpellier e Cristiane F, interpretadas respectivamente por Cláudia Raia, Cristina Pereira, Louise Cardoso e Débora Bloch, dividiam uma mesma cela com dois beliches. A decoração ficava por conta dos pôsteres de mulheres nas paredes, colados por Tonhão. Dona Solange, interpretada por Regina Casé era a diretora do presídio feminino.
Tonhão foi presa e condenada por ter seduzido e estuprado mais de 400 alunas do Educandário das Carmelitas Israelitas; Olga de Castrro era comunista e participava do PCCC (Partido Comunista Comunista para Caramba); Isabelle era uma patricinha e dondoca que foi presa a pedido do pai para começar sua carreira de baixo; e Cristiane era uma vadia, prostituta, alcoolizada, fedida, mal-paga e torcedora do Botafogo, que, aos 18 anos foi condenada por porte de drogas e tráfico de camisinhas e tomadas japonesas.
O Segredo de Darcy – Darcy (Luiz Fernando Guimarães) era uma "mulher" com um comportamento abrutalhado demais. Darcy comanda com mãos de ferro a vida do marido, o panaca Otávio (Pedro Paulo Rangel), o Tavinho, filho de Dona Celeste (Regina Casé), que sempre se mete na vida do casal.
Na Mira do Crime – Programa policial apresentado pelo delegado Mariel Mexilhão (Pedro Paulo Rangel). A "cotação do presunto na Baixada” e a “parada dos mais procurados pela polícia” eram algumas das notícias apresentadas. Na Mira do Crime apresentava a reconstituição de uma história verídica, como o programa Linha Direta, que estreara em abril de 1990.
Combate – Sátira às séries norte-americanas e a participação dos EUA na guerra do Vietnã. Apresentava as aventuras de três mariners do 6º comando tático, perdidos no meio da selva, à espera do ataque sempre iminente dos vietcongues.
Barbosa Nove e Meia – O sucesso do personagem Barbosa foi tão grande na novela Fogo no Rabo que ele passou a estrelar o programa Barbosa Nove e Meia, que começava às 21h30 porque ele dormia cedo. O quadro era uma sátira aos programas de entrevistas.
Rala, Rala – Novela rural, cujo protagonista era Índio Cleverson (Luiz Fernando Guimarães), um ingênuo silvícola meio abobalhado que achava tudo “En-graçado pra-caramba!”. Rala, Rala era descrita como sendo a "primeira novela rural sem Lima Duarte”.
Casal Telejornal – Paródia do jornal apresentado pelos jornalistas Eliakim Araújo e Leila Cordeiro. Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé interpretavam o casal Carlos Alberto e Maria Helena. Eles liam as notícias mais absurdas do mundo diretamente do balcão da cozinha de um apartamento de classe média, e não se incomodavam em interromper as transmissões para resolver assuntos domésticos.
Casal Neuras – Luiz Fernando Guimarães e Louise Cardoso interpretaram o Casal Neuras, versão para a TV dos personagens paulistas, moderninhos e neuróticos criados pelo cartunista Glauco Villas-Boas e publicados em tiras de quadrinhos no jornal Folha de S. Paulo.
Dieta – Paródia da novela Tieta, exibida pela Globo entre 14/08/1989 e 31/03/1990. A música de abertura satirizava a canção de Caetano Veloso para a personagemTieta. A letra estimulava a gula: “Vem meu amor, vem com sabor / Juntos vamos engordar / Comer sem pudor, a todo vapor / Linguiça, paio e couve-flor / Dieta, Dieta / No ventre de Dieta encontrei um leitãozinho / A boca de Dieta tá cheia de macarrão”. Os personagens da novela sempre tinham uma guloseima em mãos. A novela sempre terminava com: “Dieta do Agreste. Baseada numa receita de Jorge Amado”.
Que Gay Sou Eu? – Sátira à novela Que Rei Sou Eu?, exibida pela Globo entre 13/02/1989 e 16/09/1989. Os atores Luiz Fernando Guimarães, Ney Latorraca e Pedro Paulo Rangel interpretavam três gays que viviam num imaginário reino na época da Revolução Francesa.
Morro do Macaco Molhado – As atrizes Louise Cardoso e Cláudia Raia eram duas golpistas que moravam no Morro do Macaco Molhado, um morro situado naZona Sul.
Brega In Rio – Sátira ao Rock in Rio, que ocorreu em janeiro de 1985. O slogan era “O primeiro espetáculo que o sertão consagrou”. Louise Cardoso e Diogo Vilela formavam uma dupla e cantavam assim: “Se a vida começasse agora / se o mundo fosse um jerimum / largava a obra e xaxava até de manhã / ô-ô-ô-ô / Brega in Rio”.
Saddam Onze e Meia – Paródia do programa Jô Soares Onze e Meia, apresentado por Jô Soares no SBT entre 1988 e 1999. No quadro, Pedro Paulo Rangel, que se declarava “o tirano mais simpático do Iraque” aparecia vestido como militar. As entrevistas eram feitas num cenário de guerra, mas como era uma sátira ao programa de entrevistas de Jô Soares, também não faltavam uma mesa, um sofá e a tradicional canequinha do apresentador.
Campo Rural – Sátira ao telejornal Globo Rural.
Telecatch Segundo Grau – Sátira ao Telecurso Segundo Grau.
Pisão de Ventre – Luiz Fernando Guimarães era um falido jogador de futebol que sonhava encontrar sua perna desaparecida.
Piada em Debate – Louise Cardoso era a âncora deste quadro que tinha como objetivo debater em detalhes a anedota mostrada anteriormente. Ou seja, primeiro era contada uma piada e depois um grupo de convidados participava de um debate sobre a piada.
Black Notícias – Inspirado no Jornal Nacional do final dos anos 80. Ao som do hip-hop, os apresentadores Hipólito Hip-Hop (Guilherme Karan) e Rap Rapeize (Luiz Fernando Guimarães) davam as notícias.
Plantão da Farmácia Central – Débora Bloch era a repórter Adelaide Catarina e a jornalista Blasé Urinolla Falabella. Já Luiz Fernando Guimarães era Rocha Miranda, o “repórter de subúrbio”, e Louise Cardoso era Melissa Grendene, a “repórter sandália”.
Balança, Mas Não Sobe – Sátira do programa de humor Balança Mas Não Cai, exibido na Globo entre 16/09/1968 e 28/12/1971 e depois entre 25/04/1982 e 02/01/1983. A abertura era com mulheres dançando de maiô. Eram apresentados quadros como Super Safo, Esporte Esportivo, A Coisa, Loucademia de Ginástica, A Perseguida, Hospital Geral, Perdidos no Espaço, Relacionamento, Sublime Relacionamento e Recessão da Tarde.
Paródias de comerciais – Nos intervalos comerciais do TV Pirata eram apresentados esquetes que satirizavam propagandas que estavam no ar na época.
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