Em concordata desde junho de 1998 e sob ameaça de falência por não ter pago a primeira parcela de sua dívida vencida, a cadeia de lojas controlada pela família Simeira Jacob tenta convencer todos os seus credores a aderir a um plano de reestruturação diferente, que pode abrir nova brecha na Lei de Falências, de 1945. Abre um fôlego para que a rede, com 186 lojas e 2.700 funcionários, continue a operar.
O Banco Fenícia, hoje, está em processo de fechamento, mas sem nenhuma intervenção do Banco Central.
Além do banco e das Lojas Arapuã, a família Simeira Jacob tinha até o início do ano passado a fábrica de chocolates Neugebauer e a Etti, além da construtora Lótus. A construtora permanece com a família. Neugebauer e Etti foram vendidas. A Neugebauer foi repassada pelo valor de sua dívida. Os Simeira Jacob não receberam nada. Pela Etti, a família recebeu R$ 60 milhões da Parmalat italiana e repassou o valor para as Lojas Arapuã.
A vida da família também mudou. Jorge Simeira Jacob saiu de sua casa de 1.500 metros quadrados na Chácara Flora (Zona Sul de São Paulo), onde vivia com a família desde 1976, e mudou-se para outra casa quase dez vezes menor. Renato Jacob, que agora preside a Arapuã 2, diz que não vai a festas ou restaurantes badalados. “Nossa diversão é jogar tênis nos finais de semana”, afirma Renato. O pai, Jorge, deixou a presidência do Instituto Liberal.
O que aconteceu para a Arapuã sair de um lucro de R$ 160 milhões em 1996, um ano depois de abrir o capital e começar a negociar suas ações em Nova York , para um prejuízo de R$ 264 milhões no ano seguinte? Renato Jacob diz que foram vários fatores, mas sobretudo a inadimplência. Dos R$ 3 bilhões em créditos concedidos pela Arapuã entre 1995 e 1998, R$ 550 milhões deixaram de ser pagos. E tudo se agravou porque a Arapuã entregava para os bancos (inclusive para a Feniciapar, subsidiária do Banco Fenícia) os créditos a receber dos clientes e pegava o dinheiro antecipadamente. Mas se comprometia a cobrir qualquer inadimplência. No balanço de 1997, por exemplo, aparecem R$ 580 milhões de contas a receber de clientes e uma provisão para devedores de R$ 313 milhões, metade da carteira registrada no final do ano anterior. Tudo indica que a empresa – pioneira, desde 1967, em Crédito Direto ao Consumidor – não soube emprestar com eficiência quando o mercado entrou em expansão. Renato Jacob admite que também foi um erro ter entrado na guerra de preços e prazos.
Empresário filho tirou a loja do pai da falência e deu início à Arapuã
Esta não é a primeira vez que Jorge Simeira Jacob, fundador do grupo Fenícia e das Lojas Arapuã, enfrenta um processo pré-falimentar. Há 48 anos, quando tinha apenas 17 anos de idade, Simeira Jacob recebeu a visita de um advogado para comunicar-lhe um pedido de falência contra a empresa que herdara do pai: a loja de tecidos Nossa Senhora Apparecida, na cidade de Lins, no interior de São Paulo. Passou a noite em claro, mas levantou da cama no dia seguinte com a solução. Estava decidido a procurar o juiz e oferecer o pagamento de 50% de suas dívidas. Com aval dos credores, o juiz desbloqueou a conta bancária do menor. Equacionado o problema, Simeira Jacob deu início à expansão. Em 1957 inaugurou a segunda loja em Lins, seguida de outra fora da cidade. Foi quando percebeu a necessidade de mudar a razão social da empresa e também o ramo de atividade. Nascia ali a Arapuã, que chegou a registrar vendas brutas superiores a R$ 2 bilhões.
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